terça-feira, 26 de junho de 2012

GREVE NA DELMONT - NOTA DOS TRABALHADORES(AS)

      Nós, Trabalhadores e Trabalhadoras assalariados da empresa de fruticultura DELMONT Limoeiro, anunciamos greve por tempo indeterminado, a partir das 6:00 hrs do dia 25 de Junho de 2012. A deliberação foi uma iniciativa da nossa categoria, trabalhadores(as) desta empresa, como forma de demostrar a insatisfação de todos e todas diante de uma série de situações de injustiça e constrangimentos que vem acontecendo e se repetindo constantemente.
      A pauta principal reivindicada é o pagamento das horas in itinere, que a empresa se nega a efetuar. Esse direito nos é assegurado pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) em seu Artigo 58, Parágrafo 2º, onde diz que “o tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por transporte público, o empregador fornecer condução”.
      A diretoria da Delmont se negou a receber o comunicado oficial da greve emitido e levado à empresa pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais em 21 de junho de 2012.  Os trabalhadores estão assistidos por seus representantes legais, no caso o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Limoeiro do Norte e a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará (FETRAECE). Recebem ainda apoio de diversas instituições (sindicatos, movimentos sociais, Paróquias da Diocese, Cáritas Diocesana, pessoas comprometidas com nossa causa).
      Com todos eles e com a sociedade compartilhamos as situações de injustiça que vivemos no nosso trabalho. Entre essas situações estão:

- Não pagamento das horas in itineres, como foi explicitado anteriormente;
- Assédio Moral, onde a empresa faz imposição de metas de trabalho que ultrapassam a nossa capacidade operacional;
- Imposição abusiva de horas extras, desrespeitando as leis trabalhistas, mas sobretudo desrespeitando o tempo que nós deveríamos ter para descanso e estar com a família;
- Não pagamento de insalubridade para trabalhadores que estão expostos ao veneno;
- Não fornecimento dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI`s) e Equipamentos de Trabalho;
- Intimidações criadas pela própria empresa equipando os fiscais com facões, de forma desnecessária;
- Desrespeito e constrangimento do trabalhador quando são criadas situações injustas de advertências e suspenções, descontadas em nossos já pequenos salários;

            Comunicamos a todos os companheiros e companheiras, aos poderes públicos e à sociedade que estamos na resistência, reconhecendo nesta greve um instrumento legal de nós trabalhadores(as) como forma de ter os nossos direitos assegurados e de sermos tratados com dignidade e respeito.

Limoeiro do Norte, 25 de Junho de 2012.


ASSINA: Comissão de Greve.

terça-feira, 12 de junho de 2012

CATADORES E CATADORAS MAIS UMA VEZ MARCHAM POR DIREITOS E CIDADANIA

           O dia 06 de junho de 2012, em Russas, amanheceu em clima de romaria. Era pouco mais de sete da manhã quando o carro de som parou em frente ao Centro Pastoral da Paróquia de Russas e começou a tocar umas músicas diferentes. Alguns curiosos, que aprontavam as coisas para o início de mais um dia de trabalho, pararam para escutar aquelas letras que falavam de direitos, de lixo, de coleta seletiva... Sim, eram músicas do Movimento dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis. Faixas, cartazes e bandeiras foram colocadas no chão à espera daqueles e daquelas que iriam participar da 1ª Marcha dos Catadores de Russas.
O povo foi chegando aos poucos. Primeiramente o ônibus de Russas, com a galerinha animada da Banda de Lata Harmonia do Alto São João. Chegaram com seus instrumentos feitos com aquilo que, para alguns, seria lixo. E chegaram fazendo barulho mesmo, mostrando que é possível reciclar a consciência, a vida negada e transformar em direitos, em cidadania. Depois chegou o povo de Quixeré, com o pessoal do NIT, montadas em um bugre, com sonhos e desafios que inspiram a lutar, até mesmo com um pequenino bugre, que apesar de ser pequeno, é forte... Por fim, veio o ônibus trazendo o povo de Limoeiro e Flores, todo mundo animado com a galerinha do CODEMAF, com suas cores e desejo de transformação.
Depois do café da manhã, servido e preparado com muita dedicação por parceiros(as) da Paróquia de Russas, demos início à caminhada. Era véspera do dia do(a) Catador(a). As ruas por onde passamos ficaram pequenas para os sonhos e desejos de mudanças e transformações que gritávamos. Tivemos até dois parceiros da OFICARTE, com suas imensas pernas de pau ajudando na visibilidade da nossa marcha. E o grito era, de fato, desses homens e mulheres que, ainda, fazem seu trabalho de catação em lixões, sem qualquer proteção ou direitos... Sim! Na vida do catador(a) falta quase tudo: saúde, trabalho digno, reconhecimento, visibilidade enquanto cidadãos, acesso a educação e saúde de qualidade, saneamento básico e acesso a água de qualidade. É preciso ter coragem para sair às ruas. E assim estávamos lá, com coragem e o grito preso na garganta: “A quem diga olê, olê, olê, olá... catador de norte a sul, e de acolá. Nesta marcha sem parar, caminhar é resistir e se unir é reciclar...”
Terminada a marcha pelas principais ruas da cidade de russas, nos dirigimos para a câmara municipal, onde aconteceu a audiência pública, com a presença de representantes dos poderes públicos municipais, movimentos sociais e sociedade civil. A audiência foi um momento de colocarmos como pauta de reivindicação aquilo que vínhamos gritando na marcha: nossos direitos. Alguns acordos e compromissos foram firmados entre o poder público e catadores. São eles:

- Aquisição de duas balanças e duas prensas a serem repassadas para o grupo de Flores, bem como para o grupo do lixão.
- Encaminhar um Projeto de Lei de subvenções para aluguel de um espaço para o funcionamento do galpão e o transporte para a coleta seletiva, contemplando o grupo de Flores e do lixão de Russas.
- Mobilizar junto ao prefeito de Limoeiro uma audiência para discutir sobre a proposta do aterro sanitário.
- No que se refere à creche existem duas em processo de negociação e uma delas em construção, uma na comunidade do Cabelo de Nego e outra na Vila, se a distância for acima de 10 km poderia ser disponibilizado um transporte para o deslocamento.
- No que se refere à demanda da agua encanada já tem um projeto de ampliação próximo à comunidade dos catadores/as e assume o compromisso de a partir de agora comtemplar a demanda da comunidade do Alto São Joao.
- No que se refere à demanda de saneamento ainda e um grande desafio – Cagece. Tem um projeto de estudo em função do projeto minha casa e minha vida e como esta numa comunidade próxima, poderia fazer a solicitação mais não poderia atender essa demanda de imediato.
- Acompanhar junto ao Ministério das Cidades as discussões sobre o consorcio dos aterros.
- Que o Ministério Público intervenha nas demandas apresentadas pela classe dos Catadores/as e no acompanhamento da coleta seletiva com a inclusão dos catadores.
- No que se refere à saúde realizar uma reunião com grupo e parceiros para a discussão da demanda.

Terminamos com um almoço entre todos os participantes, depois fizemos uma avaliação. Na ocasião, conversamos com a diretoria da OFICARTE que assumiu, em uma parceria com a Cáritas, a continuidade das atividades de arte e cultura com os filhos(as) de Catadores(as) de Russas.
A marcha não para, a marcha continua. Agora na nossa luta para que os acordos e compromissos sejam assumidos com a mesma responsabilidade que foram construídos juntos com os catadores. Valeu a todos(as) que contribuíram para que esse momento importante se realizasse.


MARCHA DOS CATADORES DE RUSSAS - AUDIÊNCIA PÚBLICA

Barragem do Figueiredo soma rombo de R$ 13,5 mi

FONTE: Diário do Nordeste, por Melquíades Júnior.

Superfaturamento e possível corrupção passiva de servidores do Dnocs comprometem andamento das obras
Potiretama
Passados dez anos desde o início dos cadastros para remoção das casas, dezenas de famílias atingidas pela barragem do Figueiredo continuam aguardando uma solução. Já foram várias promessas em meio a uma das obras mais irregulares do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) na atualidade, segundo a Controladoria Geral da União (CGU), dando conta de que R$ 13,5 milhões podem ter sido desviados por meio do superfaturamento na obra. O Ministério Público Federal investiga possível corrupção passiva de servidores do Dnocs no processo indenizatório. Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre MPF e governos estadual e federal dava dezembro de 2010 como último prazo para tudo ter sido resolvido. Ainda hoje sem receber indenização nem novas casas e também não poderem receber financiamento público para trabalhar (porque a área será inundada), moradores de comunidades dos Municípios de Iracema e Potiretama passam fome e sede.

A Barragem do Figueiredo é uma obra do Dnocs dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Está parada há dois anos deste que a Justiça Federal determinou que só vão continuar a obra quando as famílias que estão dentro da área que será inundada forem devidamente removidas e indenizadas. Não foram até hoje. Com exceção dos proprietários das terras maiores, as famílias mais pobres, que historicamente habitam benfeitorias, seguem num impasse que já vai completar dez anos.

Era final de 2003 quando seu Osmar Francisco Moura recebeu a visita do Dnocs para iniciar o cadastro que organizaria a sua saída da comunidade de Lapa, em Potiretama, que será inundada quando a parede da barragem for fechada. De lá para cá foram várias visitas, mas até hoje nada. Vai fazer uma década que o agricultor aguarda a indenização de R$ 5 mil para deixar a casa onde vive, perto de onde plantava e criava. "Um dinheiro desse hoje não dá pra comprar nem um pedaço de chão", reclama ele. Não bastasse a demora para receber a "micharia", ele e outras dezenas de famílias das comunidades de Boa Esperança e Lapa (em Potiretama) e São José (em Iracema) não podem mais produzir na terra porque "agora é do Dnocs". Nem financiamento bancário é possível fazer. "Nem tiram a gente, indenizam, colocam noutro lugar, nem deixam a gente trabalhar. É um absurdo isso. Nós fomos esquecidos", conta a agricultora Maria Alves de Oliveira, presidente da Associação de Moradores da Lapa. Essa situação (incluindo a promessa de concluir tudo em dezembro de 2010) já foi conferida de perto em matérias neste jornal.

Mais pobres
Curiosamente, quem tem mais terras já foi indenizado, portanto a situação atinge principalmente os mais pobres. Mesmo assim, a Justiça Federal recebeu denúncia sobre subvalorização das áreas indenizadas. É o caso de Francisco de Paulo Holanda, conhecido por "Paulo Horácio" (era esse o nome do pai): por uma área de 375 hectares, constituída de um açude, quatro grandes poços subterrâneos, cinco casas, dois armazéns, onde era processado milho e feijão que lá mesmo se produzia em sequeiro, o homem recebeu uma indenização de R$ 240 mil. O vizinho dele, Agostinho Fernandes Holanda, com quase a mesma quantidade de terra, não recebeu ainda a indenização, mesmo tendo todos os documentos da terra.

Parte das famílias atingidas pela barragem do Figueiredo deve ser removida para agrovilas, que são espaços construídos em áreas próximas às que serão as margens do açude. Essa parte é da responsabilidade do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), em convênio firmado com o Dnocs.

Mas além de a obra estar parada (o Idace aguarda segunda parcela do Dnocs), também foram encontradas irregularidades: o material utilizado teria sido de baixa qualidade, e mesmo antes de receber as famílias, algumas casas precisam ter portas e vigas de madeira trocadas.

As casas foram construídas em regime de mutirão como acontece em áreas urbanas, sem obedecer orientações normativas que entende ali serem pessoas do campo, e que a distância entre as casas deve considerar o espaço para plantio ou criação.

O desembargador Gercino José, da Ouvidoria Agrária Nacional, está pedindo esclarecimentos ao Dnocs e ao Idace sobre o processo de regularização fundiária nos atingidos pela Barragem do Figueiredo.

Enquanto isso, a casa de seu Osmar está literalmente caindo sobre sua cabeça, "porque eu não vou tentar fazer uma reforma numa coisa que vai ser demolida". E mesmo que quisesse, o homem não podia.

A situação em casa está "braba". Não pode mexer na terra em que nasceu, nem sabe se quem chega primeiro a sua casa: a indenização ou as águas do Açude Figueiredo.

Mais informações
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs)
Telefone: (85) 3391.5105
Defensoria Pública da União
Telefone: (85) 3474.8750

Retomada das obras deveria ter ocorrido desde 2010
Famílias ainda aguardam indenizações. Curiosamente, os proprietários com menor poder aquisitivo são os que ainda esperam por definição. Não podem reformar as casas e não sabem quando serão transferidos
Após auditoria em obras públicas do Dnocs no País, a Controladoria Geral da União encaminhou à presidência da república relatório apontando uma série de irregularidades na obra da Barragem do Figueiredo. Em valores, ao menos R$ 13,5 milhões de prejuízo direto. Quando o relatório ficou pronto, o então diretor do Dnocs, Elias Fernandes, negou irregularidades, mas demitiu a direção da comissão que acompanhava a obra. Depois o próprio Elias Fernandes foi demitido pelo Ministro da Integração Nacional, por orientação da presidente Dilma. O canteiro de obras da barragem está abandonado. Dnocs diz que a obra deve ser retomada ainda neste ano. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público Federal é desobedecido há um ano e oito meses. Previa multa diária de R$ 1 mil.

A Barragem do Figueiredo foi uma das primeiras obras do Dnocs avaliadas na mais recente auditoria realizada no órgão. O primeiro questionamento dos auditores foi a falta de informações referentes a desapropriações, cadastro e reassentamentos de terra no relatório da Procuradoria do Dnocs. Depois foi verificado que o relatório da empresa de consultoria tinha sido em parte copiada do próprio relatório de supervisão do Dnocs. O relatório também aponta pagamento indevido de equipamentos por inobservância dos critérios de medição, inclusive nas escavações, com erros nas explosões com dinamite. O pagamento indevido decorrente das medições teriam totalizado R$ 1,7 milhão. O Dnocs chegou a reconhecer falhas apontadas pelo relatório, mas que situações de sobrepreço não chegaram a ser pagas à empresa construtora.

No ano de 2010, diante da ação de fechamento da barragem e com as famílias ainda morando na área a ser inundada, esses moradores ocuparam o canteiro de obras, como forma de pressionar o Dnocs a concluir as indenizações e suas casas. As obras sofreram um mês de paralisação e a Queiroz Galvão pediu indenização de R$ 3,4 milhões.

A auditoria considerou o pagamento irregular, uma vez que no contrato da obra já são previstos custos "eventuais". Os auditores apontaram ainda "inércia do diretor geral do Dnocs" (à época, Elias Fernandes) quanto a definição de contratação dos serviços de desmatamento na barragem, "gerando incerteza física e financeira para a conclusão do empreendimento, além de existência de superestimativa e sobrepreço no projeto básico de desmatamento no valor de R$ 13 milhões. Essa e outras denúncias totalizariam um pagamento indevido de ao menos R$ 17 milhões. Hoje no Dnocs pouco se fala sobre o problema. Nem mesmo os diretores de departamento quiseram falar com a reportagem. "Esse assunto é só com o nosso diretor-geral", afirmou um deles. O diretor-geral, Emerson Fernandes, não foi encontrado pela reportagem.

Agricultores criam um oásis produtivo em meio à seca

FONTE: Diário do Nordeste, por MELQUÍADES JÚNIOR.

Famílias encontram apoio para plantar e criar animais, vivendo tempo de fartura, apesar da estiagem
Potiretama. A vida não está fácil, e como não chove fica difícil ter comida para os bichos e na mesa de casa. A comunidade de Caatingueirinha, em Potiretama, enfrenta melhor o dilema da seca desde que intensificou a plantação de hortas, árvores frutíferas e a criação de galinhas no quintal de casa.

A iniciativa é própria. Até as sementes em estoque são do lugar. O que era alternativo virou principal e "quando deu fé", a renda é maior com o que produz no quintal do que a própria plantação de milho e feijão em regime sequeiro.



As atividades da comunidade, que foram incentivadas pela Cáritas Diocesana, tiveram início há cinco anos. Atualmente, possuem hortas, pomares e criação de animais que ajudam na subsistência das famílias FOTO: MELQUÍADES JÚNIOR
Antes mesmo que virasse uma política pública de Estado, os quintais produtivos da Caatingueirinha já contrastavam com grande parte do sertão ressequido, marcado pela fome e sede.

Apoio
Agora os projetos da comunidade já são apoiados pelos bancos e, assim, foi possível potencializar a ideia própria. O quintal de Antônia das Graças Moura Oliveira é talvez a parte mais importante da casa. Ali, ela com o marido e todos os filhos plantam, colhem e criam.

A geladeira está cheia de ovo caipira, a macaxeira acabou de sair do fogo, e mesmo quase não chovendo desde o Carnaval tem água para a horta suspensa de onde sai cheiro verde, coentro, pimentão e pimentinha. Logo mais à frente, árvores frutíferas garantem o suco do almoço.

A Caatingueirinha tem 59 famílias, e quem não vive no serviço público ou aposentadoria pode dizer que o "inverno tá ruim como um todo"´, mas "com certeza poderia estar pior", afirma Antônia das Graças, a "Gracinha". Ao todo 30 famílias da comunidade desenvolvem os seus quintais produtivos. A água para o regadio foi garantida pelas chuvas nos dias de carnaval: a cisterna calçadão (com um grande espelho de concreto, por onde escorre a água) ainda está com bom volume e ainda dá para mais meses.

Um viveiro de mudas garante plantas das mais diversas espécies. A que não for frutífera, dá para um bom chá ou tempero. As frutas são comercializadas na região. O que admirou até mesmo a Dona Gracinha, é que a produtividade no seu quintal está rendendo mais do que ela consegue normalmente na produção de milho e feijão em regime de sequeiro. "Aqui chegamos a tirar mais de R$ 5 mil reais por ano, só com essas plantas e a criaçãozinha aqui", define o seu quintal. Pode parecer pouco, mas ainda é mais do que a família tem conseguido anualmente na plantação de milho e feijão.

A Associação dos Trabalhadores de Caatingueirinha possui uma Casa de Semente com grãos produzidos ali mesmo, sem depender da remessa do Governo do Estado. O estabelecimento foi construído após uma gincana popular para arrecadação de fundos. O nome é bem sugestivo: Casa de Sementes Renascer do Sertão. Ali tem sementes de reserva que se continuar a "seca braba", eles tem estoque das mais variadas frutas e leguminosas para plantio nos quintais da comunidade.

As atividades da comunidade tiveram início cinco anos atrás, a partir do incentivo da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte. Técnicos da instituição ensinavam como criar projetos de convivência com o semiárido. Hoje eles desenvolvem, além da casa de sementes, sistema agrossilvopastoril, farmácia viva, quintal produtivo e a criação de lideranças comunitárias. Também existiu apoio do P1+2 (Programa uma terra, duas águas), em parceria com a Articulação do Semiárido (ASA).

"Quando o governo começou a incentivar a agricultura orgânica nos quintais de casa, nós já estávamos fazendo aqui", lembra dona Gracinha. Mas hoje a comunidade mantém as atividades com apoio do Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Organização Barreira Amigo Solidário (OBAS) e da Cáritas Diocesana.

O ano de 2013 poderá ter os efeitos da seca amenizados, ainda que naquele ano chova tão menos quanto neste. Isso pelo menos para as famílias que criarem os quintais produtivos, agora amparado pelos governos Estadual e Federal.

Por meio de convênio assinado entre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Secretária do Desenvolvimento Agrário (SDA) serão construídos 5.700 quintais produtivos. Uma parte tendo água a partir do sistema de barragem subterrânea e outros com cisterna calçadão.

Ao todo serão aproximadamente R$ 82 milhões do Governo Federal com contrapartida estadual. A estimativa é de que 67 municípios sejam beneficiados até o final do programa.

Mais informações:

Movimento Cáritas Diocesana
Igreja Católica
Diocese de Limoeiro do Norte
Telefone: (88)342303222

Famílias ameaçam arrombar trecho do Canal da Integração

FONTE: Diário do Nordeste - Por MELQUÍADES JÚNIOR.


Comunidades de Morada Nova querem que água do "Eixão" chegue até riacho que abastece localidades

Morada Nova A situação já saiu de preocupante para alarmante para centenas de famílias de comunidades neste Município. A seca diminuiu o volume do açude que abastece um riacho, que atende ao menos sete localidades. Agora não mais. E preocupados, os moradores reivindicam que um trecho do Canal da Integração, que passa sobre o riacho seco, libere água ou eles mesmos, numa atitude dramática, ameaçam abrir a válvula. Uma comissão de moradores foi recebida pela regional da Companhia de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (Cogerh), que orientou a elaboração de um relatório a se encaminhar à diretoria em Fortaleza.

O Açude Cipoada, em Morada Nova, está com apenas 20,1%. E a continuar sem chover, a projeção é que termine o ano com 8% da capacidade, conforme o escritório da Cogerh em Quixeramobim. Por isso, a situação já é considerada crítica pela própria Companhia, inclusive em vários outros açudes, especialmente com pequena capacidade de reserva, conforme já apontou o Caderno Regional.

Com tão pouca água, a Cogerh cortou o abastecimento a comunidades mais distantes atendidas pelo Açude Cipoada. Moradores das comunidades Flor de Lis, Pedra da Mesa, Vaca Morta, Cacodé, Melões, Frade e Porção estão sem receber água do reservatório.

"O Cipoada está em alerta máximo. A situação está muito crítica e não dá para atender a todas as comunidades de quando o açude está cheio. Levamos em consideração o uso prioritário, que é o abastecimento humano. A partir das medições de vazão nos trechos é possível medir o quanto se pode liberar de água", esclarece Luís César, do escritório da Cogerh em Quixeramobim, a quem cabe a gerência do Açude Cipoada.

O agricultor José Pedro lamenta que os animais já estão morrendo, a começar pelos peixes, e não vinga plantação de milho nem de sorgo. "A situação está braba mesmo. O pedaço do riacho que passa aqui tá seco, terra batida, e a gente tem medo que a situação só piore, porque aí quando faltar água para todo mundo beber a gente não sabe o que vai acontecer. Por isso, estamos pedindo às autoridades que despejem água do eixão aqui. Existe uma válvula, que pode derramar água no Santa Rosa", afirma Pedro.

Ele se refere a um trecho de adutora do "Eixão", ou Canal da Integração, que passa próximo ao Riacho Santa Rosa. Em um segmento da tubulação existe uma válvula, chamada de Descarga de Fundo.

Esse dispositivo é acionado (aberto) para realizar limpezas na tubulação, como a retirada de detritos. Periodicamente a gerência regional Cogerh em Limoeiro realiza descargas, para evitar entupimento nas ventosas. De acordo com um técnico ouvido pela reportagem, que não quis se identificar, ao menos teoricamente essa descarga usada na manutenção do canal poderia prover o abastecimento em um trecho do Riacho Santa Rosa. Mas a decisão sobre o que pode ser feito passará pelo crivo da direção da Cogerh em Fortaleza, que ainda nesta semana receberá uma carta de solicitação dos moradores. Liderados pelo padre Almir Costa, de São João do Jaguaribe, as famílias de agricultores visitaram o escritório regional da Cogerh em Limoeiro pedindo providências. "O mais importante é tentar todos os meios legais para que uma saída seja dada às comunidades, que estão sofrendo", afirma o padre.

Mas os próprios moradores ameaçam tomar medidas mais radicais, caso não sejam atendidos ou não se apontem saídas que garantam o abastecimento de água. A medida mais drástica seria arrombar um trecho do canal da integração, que leve água para o trecho seco do Riacho Santa Rosa. Atualmente, o Açude Cipoada pereniza 58km do Riacho Santa Rosa.

O Canal da Integração liga o Açude Castanhão ao Pecém, projetado como um garantidor de abastecimento para a Região Metropolitana de Fortaleza. Bem como para as indústrias na região. O "Eixão", como também é conhecido, recebeu duras críticas por não contemplar, inicialmente, o abastecimento humano de famílias que moram por onde passa o canal. Só no ano passado a Secretaria dos Recursos Hídricos conseguiu gerar abastecimento a 2.280 famílias pelo canal, mas somente graças a um recurso de R$ 3,7 milhões do Fundo Estadual de Combate à Pobreza, porque esse abastecimento não estava previsto no plano inicial do Canal.

Mais informações:
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh)
Rua Adualdo Batista, 1550 - Parque Iracema, Fortaleza/CE
Telefone: (85) 3218.7025
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