terça-feira, 12 de junho de 2012

CATADORES E CATADORAS MAIS UMA VEZ MARCHAM POR DIREITOS E CIDADANIA

           O dia 06 de junho de 2012, em Russas, amanheceu em clima de romaria. Era pouco mais de sete da manhã quando o carro de som parou em frente ao Centro Pastoral da Paróquia de Russas e começou a tocar umas músicas diferentes. Alguns curiosos, que aprontavam as coisas para o início de mais um dia de trabalho, pararam para escutar aquelas letras que falavam de direitos, de lixo, de coleta seletiva... Sim, eram músicas do Movimento dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis. Faixas, cartazes e bandeiras foram colocadas no chão à espera daqueles e daquelas que iriam participar da 1ª Marcha dos Catadores de Russas.
O povo foi chegando aos poucos. Primeiramente o ônibus de Russas, com a galerinha animada da Banda de Lata Harmonia do Alto São João. Chegaram com seus instrumentos feitos com aquilo que, para alguns, seria lixo. E chegaram fazendo barulho mesmo, mostrando que é possível reciclar a consciência, a vida negada e transformar em direitos, em cidadania. Depois chegou o povo de Quixeré, com o pessoal do NIT, montadas em um bugre, com sonhos e desafios que inspiram a lutar, até mesmo com um pequenino bugre, que apesar de ser pequeno, é forte... Por fim, veio o ônibus trazendo o povo de Limoeiro e Flores, todo mundo animado com a galerinha do CODEMAF, com suas cores e desejo de transformação.
Depois do café da manhã, servido e preparado com muita dedicação por parceiros(as) da Paróquia de Russas, demos início à caminhada. Era véspera do dia do(a) Catador(a). As ruas por onde passamos ficaram pequenas para os sonhos e desejos de mudanças e transformações que gritávamos. Tivemos até dois parceiros da OFICARTE, com suas imensas pernas de pau ajudando na visibilidade da nossa marcha. E o grito era, de fato, desses homens e mulheres que, ainda, fazem seu trabalho de catação em lixões, sem qualquer proteção ou direitos... Sim! Na vida do catador(a) falta quase tudo: saúde, trabalho digno, reconhecimento, visibilidade enquanto cidadãos, acesso a educação e saúde de qualidade, saneamento básico e acesso a água de qualidade. É preciso ter coragem para sair às ruas. E assim estávamos lá, com coragem e o grito preso na garganta: “A quem diga olê, olê, olê, olá... catador de norte a sul, e de acolá. Nesta marcha sem parar, caminhar é resistir e se unir é reciclar...”
Terminada a marcha pelas principais ruas da cidade de russas, nos dirigimos para a câmara municipal, onde aconteceu a audiência pública, com a presença de representantes dos poderes públicos municipais, movimentos sociais e sociedade civil. A audiência foi um momento de colocarmos como pauta de reivindicação aquilo que vínhamos gritando na marcha: nossos direitos. Alguns acordos e compromissos foram firmados entre o poder público e catadores. São eles:

- Aquisição de duas balanças e duas prensas a serem repassadas para o grupo de Flores, bem como para o grupo do lixão.
- Encaminhar um Projeto de Lei de subvenções para aluguel de um espaço para o funcionamento do galpão e o transporte para a coleta seletiva, contemplando o grupo de Flores e do lixão de Russas.
- Mobilizar junto ao prefeito de Limoeiro uma audiência para discutir sobre a proposta do aterro sanitário.
- No que se refere à creche existem duas em processo de negociação e uma delas em construção, uma na comunidade do Cabelo de Nego e outra na Vila, se a distância for acima de 10 km poderia ser disponibilizado um transporte para o deslocamento.
- No que se refere à demanda da agua encanada já tem um projeto de ampliação próximo à comunidade dos catadores/as e assume o compromisso de a partir de agora comtemplar a demanda da comunidade do Alto São Joao.
- No que se refere à demanda de saneamento ainda e um grande desafio – Cagece. Tem um projeto de estudo em função do projeto minha casa e minha vida e como esta numa comunidade próxima, poderia fazer a solicitação mais não poderia atender essa demanda de imediato.
- Acompanhar junto ao Ministério das Cidades as discussões sobre o consorcio dos aterros.
- Que o Ministério Público intervenha nas demandas apresentadas pela classe dos Catadores/as e no acompanhamento da coleta seletiva com a inclusão dos catadores.
- No que se refere à saúde realizar uma reunião com grupo e parceiros para a discussão da demanda.

Terminamos com um almoço entre todos os participantes, depois fizemos uma avaliação. Na ocasião, conversamos com a diretoria da OFICARTE que assumiu, em uma parceria com a Cáritas, a continuidade das atividades de arte e cultura com os filhos(as) de Catadores(as) de Russas.
A marcha não para, a marcha continua. Agora na nossa luta para que os acordos e compromissos sejam assumidos com a mesma responsabilidade que foram construídos juntos com os catadores. Valeu a todos(as) que contribuíram para que esse momento importante se realizasse.


MARCHA DOS CATADORES DE RUSSAS - AUDIÊNCIA PÚBLICA

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