quinta-feira, 19 de abril de 2018

Pesquisas sobre agrotóxicos no Ceará são compartilhadas em mesa de debate durante a VIII Semana Zé Maria do Tomé


Na manhã de quarta-feira (18/054), dentro da programação da VIII Semana Zé Maria do Tomé, aconteceu a Mesa Redonda “Agrotóxicos: Relações entre capital, doenças e conflitos socioambientais”, no Auditório da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos – FAFIDAM/UECE. Com a temática “Agrotóxicos e a questão socioambiental em Quixeré/CE”, Rafaela Lopes, da UECE/TRAMAS/NATERRA, apresentou o resultado de sua tese de mestrado, que tem por finalidade contribuir para um novo conhecimento acerca da produção dos agrotóxicos no Ceará e ajudar as/os camponesas/es da região do Baixo Jaguaribe em relação aos efeitos nocivos dos venenos ao meio ambiente e à saúde humana. Rafaela expôs, de forma contundente, que os agrotóxicos atingem de maneira imediata os trabalhadores que vendem, transportam, manipulam e pulverizam estes insumos nas áreas de plantio, e, indiretamente, as famílias que vivem no entorno das plantações. Cita como efeitos mais nocivos relacionados aos agrotóxicos as intoxicações agudas e crônicas, que podem levar a óbito; a infertilidade masculina; os casos de câncer; as doenças hepáticas, respiratórias, renais e dermatológicas.

A pesquisadora Ada Pontes, da UFCA/TRAMAS/UFC, trouxe para o debate o resultado da sua pesquisa de doutorado intitulada “Más-formações congênitas, puberdade precoce e agrotóxicos: uma crença maldita do agrotóxico para a Chapada do Apodi/CE”. A partir de estudo epidemiológico da população da região do Baixo Jaguaribe, a pesquisa de Ada constatou contaminação ambiental em área de uso de agrotóxicos, afetando 97% de trabalhadores/as rurais. Os exames revelaram contaminação de forma múltipla (entre 4 e 30 ingredientes ativos diferentes foram encontrados), intoxicações agudas, alterações hepáticas e hematológicas. A pesquisadora enfatizou que, em decorrência desse modelo dependente de uso de agrotóxicos, esse círculo do agronegócio se configura como um processo de (in)sustentabilidade social e ambiental.   

Mas apesar dos ataques do agronegócio e da ausência de atuação por parte do Estado, os movimentos sociais e as comunidades rurais dos município de Quixeré e demais municípios da região do Baixo Jaguaribe resistem e lutam por melhores condições de vida e trabalho contra o modelo hegemônico do agronegócio. Ada concluiu a fala ressaltando que sua pesquisa observou que a luta e a produção camponesa das comunidades trazem esperança para o futuro.

Por fim, a professora Bernadete Freitas, do M21, acrescentou reflexões ao debate a respeito de sua tese de doutorado sobre o campesinato, o uso de agrotóxicos e a sujeição da renda da terra ao capital no contexto da expansão da Política Nacional de Irrigação no Ceará. Em relação ao consumo de veneno, o cenário estadual revela localmente o que temos a nível nacional: o Brasil à frente no ranking mundial no uso de agrotóxicos. O mercado cresceu 190% entre 2002 e 2012, ultrapassando o aumento mundial de 93%, com futura de 12,2 bilhões de dólares. Cerca de um terço das pequenas propriedades no Brasil utilizam veneno em suas produções. E como consequência, verifica-se o processo de (in)sujeição do território camponês ao capital.


E agora, o que faremos com esses resultados?


Texto e Fotos: Eva Marques

Um comentário:

  1. É importante que utilizemos essas informações nos nossos encontros comunitários, em especial na região do Vale do Jaguaribe, fortalecendo a compreensão das famílias do quanto precisamos estar firmes e resistentes.Parabéns!

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