terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Da série "Métricas perversas"
Lá nos idos de 1800, Joseph Townsend, levantava suas propostas sobre as formas de estimular os pobres ao trabalho. Para ele, era fundamental que o Estado inglês eliminasse as políticas assistênciais, como o abono salarial com base no preço do pão. Temperando os anseios e medos com fome, todos iriam trabalhar...
Passados mais de dois séculos dos devaneios liberais piorados e muitos com as práticas neoliberais, vemos como as métricas para os pobres apenas pioraram.
No Ceará, por exemplo, a fome tem que ser interligada com a sede:
65% da água do Estado segue para o agronegócio, indústria e mineração e os outros 35% restantes não dão conta da sede do povo. Povo este que tem que conviver e ver cotidianamente a prática de políticas públicas mínimas para ele e máxima para os ricos. É assim, por exemplo, que os mais pobres se sentem ao olhar para o Canal da Integração, que leva águas do Castanhão para o complexo portuário do Pecém, sem poderem usufruir de uma gota d'água sequer, ainda que o canal passe em frente de suas casas.
Ontem, em ações pela Marcha estadual pela água, as populações do campo mostraram mais uma vez estes problemas: ocuparam o canal em Uiraponga e abriram suas comportas. Enquanto a água corria para abastecer as comunidades, as lágrimas desciam nos rostos dos camponeses. Uma dor na alma e uma alegria na carne. Na métrica perversa, a conta anunciava: 24h de válvulas abertas seriam suficientes para abastecer por 3 meses as 13 comunidades.
Para conter a "ordem da desordem", o Estado enviou a polícia e a COGERH, mas as populações continuam resistindo. Vamos ver que métricas vão romper hoje...
Mario Martins, professor da Universidade Federal do Ceará, agente voluntário da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte.

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