O processo de produção de energia a partir de tratamento térmico e
geração de energia a partir dos resíduos urbanos não recicláveis é
altamente favorável sob várias dimensões de análise.
Desde que realizado após criteriosa e abrangente institucionalização
de coleta seletiva contribui para que todos os materiais com mercado de
reciclagem firme sejam convenientemente atendidos.
Contribui para geração de emprego, renda e ocupação para toda uma
extensa faixa de população menos favorecida que tem nos mecanismos de
reciclagem e catação um forte instrumento de inclusão social.
Auxilia a economia ambiental de forma holística ao propiciar que
matérias-primas de diversas naturezas entrem novamente no ciclo
produtivo, evitando os impactos ambientais gerados pelo processamento de
novas matérias-primas, de fontes renováveis ou não.
Somente serão submetidos ao tratamento térmico para recuperação
energética uma boa parte da matéria orgânica e os materiais
não-recicláveis. O histórico dos municípios integrantes da bacia
hidrográfica do rio dos Sinos e consorciados no consórcio intermunicipal
de saneamento básico do rio dos Sinos – Pró-Sinos é de amplas
iniciativas já históricas de muito tempo, apoiando cooperativas de
catadores e operações de reciclagem em geral.
Não existe motivo para suspeitar que a negligência da prática pública
de optar pelas soluções simplificadas como a recuperação energética,
coloque em risco iniciativas do mais amplo apoio e repercussão social na
sociedade dos municípios integrantes da bacia.
Outro bom motivo para esta solução será a presença em curto espaço de
tempo de grandes quantidades de lodo e matéria orgânica advindos de
estações de tratamento de esgotos, que tem umidade elevada mas também
alto poder calorífico e terão na solução integrada de incineração um
forte apelo de destinação correta, pois em caso contrário serão elevadas
as despesas com destinação final deste material em aterros sanitários.
Existem várias tecnologias disponíveis e apresentadas ao longo do
relatório, mas em geral o tratamento térmico dos resíduos em fornos
ocorre em média em temperaturas de 950º C e a oxidação dos gases nas
câmaras de pós-queima atinge temperaturas em torno de 1050°C, com tempo
de residência muito reduzido, em torno de segundos de tempo.
As cinzas são recolhidas em arrastadores submersos em corrente de
água e lançadas no próprio decantador das usinas. Há uma extensiva
discussão de gases gerados ao longo do trabalho, e esta preocupação se
justifica na medida que os órgãos ambientais tem reservas históricas e
justificadas de precaução quanto às possibilidades de geração de
efluentes gasosos que poluam a atmosfera.
Dados pesquisados de relatórios do Ministério do Meio ambiente,
preservação ambiental e segurança nuclear da República Federal da
Alemanha asseveram que nas novas tecnologias para recuperação energética
a partir de resíduos sólidos, os níveis de dioxinas e furanos são
extremamente baixos e controlador, inferiores a unidade parte por
milhão, e mais influenciados por lareiras domésticas do que propriamente
pelas usinas.
Os gases quentes (cerca de 1000º C) são aspirados através de uma
Caldeira de Recuperação, onde é produzido vapor a 45 Bar de pressão e
400° C.
O vapor gerado pela caldeira poderá acionar Turbos-geradores, que
propiciem a geração de aproximadamente 600 kW de energia elétrica por
tonelada de lixo tratado. É muito importante observar-se que a energia
gerada é um sub-produto do processo de destinação final ambientalmente
correta do lixo urbano e como tal uma Unidade de Tratamento de Resíduos
Sólidos Urbanos nunca deve ser comparada com hidrelétricas ou
termelétricas, cuja única função é a geração de energia.
A recuperação energética aproveita o potencial de geração contido nos
resíduos que seriam simplesmente destinados a um aterro sanitário,
gerando um passivo ambiental imensurável. A coleta seletiva e reciclagem
prévia contribui para a geração de emprego e renda entre as camadas
menos favorecidas da população e para a conservação de energia contida
nos materiais remetidos para a indústria de reciclagem.
Os gases exauridos na caldeira de recuperação, geralmente sofrem
processos de neutralização considerando que os processos ocorrem em
circuito fechado, com filtros de mangas, lavadores de gases e até mesmo
tanques de decantação. Desta forma as usinas de recuperação de energia
não liberam qualquer tipo de efluente líquido.
Normalmente os processos de lavagem dos gases utilizam filtros de
mangas que capturam os materiais particulados e posteriormente são
resfriados e lavados no interior de lavadores com “spray jets” e
“barreiras de soluções alcalinas micronizadas por hélices turbinadas ou
mecanismos similares, num processo que se denomina polimento dos gases.
Ainda podem ser instalados exaustores após a filtragem, garantindo
que todo o sistema de combustão dos resíduos opere em pressão negativa,
impedindo também qualquer vazamento dos gases da combustão diretamente
para a atmosfera em caso de acidente.
Os projetos são muito diversificados, mas normalmente a solução de
lavagem é recolhida em tanques de decantação onde ocorrem neutralizações
com cinzas do próprio processo ou substâncias como hidróxidos de sódio.
As cinzas resultantes constituem quantidades em geral inferiores a
10% da massa de resíduos iniciais e podem ser utilizadas em substituição
aos materiais arenosos em artefatos de construção civil.
Qualquer que seja o projeto de recuperação energética, deve constar
especificação para que o mesmo seja analisado de acordo com a convenção
de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). E também
tendo precauções quanto a eliminação de CO, operação em pressões
negativas para evitar acidentes e sejam submetidos a temperaturas
elevadas em estágios para oxidação dos gases.
É também recomendável que a tecnologia submetida seja elaborada ao
Sumário de Formulações Políticas do IPCC da ONU (Intergovenamental
Painel Climate Change ou Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas da Organização das Nações Unidas).
A expectativa da consultora é que qualquer processo desta natureza
que reduz a emissão de gases de efeito estufa, particularmente CH4 e CO2
– gases que constituem juntos mais de 80% das emissões registradas pela
bibliografia em resíduos sólidos, sejam capazes de promover a
certificação do projeto como mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) e
os respectivos certificados de redução de emissões (CERs) sejam
passíveis de comercialização como créditos de carbono.
Este procedimento poderá ser bastante ampliado, considerando a
redução das distâncias de transporte dos resíduos que irão gerar redução
nas emissões de CO2 dos veículos transportadores e outros processos que
possam ser otimizados.
Dr. Roberto Naime,
Colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do
corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da
Universidade Feevale.
Fonte: ECODEBATE 08/05/2012
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