Realizada na tarde desta segunda-feira,
23 de abril, a entrevista coletiva concedida durante a 50ª Assembleia
Geral (AG) dos Bispos do Brasil, em Aparecida (SP), abordou temas como a
construção da Usina Hidroelétrica de Belo Monte, laicidade do Estado e a
colaboração solidária entre as dioceses.
Participaram da coletiva o arcebispo de
São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, que coordena a comissão das
celebrações dos 50 anos do Concílio Vaticano II; o bispo de Ipameri
(GO), dom Guilherme Werlang, presidente da Comissão Episcopal para a
Caridade, Justiça e Paz; e o bispo prelado do Xingu (PA), dom Erwin
Krautler, que é também presidente do Consenho Indigenista Missionário
(CIMI).
Ao
ser questionado sobre a atual situação de Altamira, no Pará, local onde
está sendo construída a usina, dom Erwin foi enfático ao mencionar o
descaso do governo com as populações locais. “Em 2009, estive
pessoalmente com o então presidente Lula que me garantiu que haveria
diálogo em relação à realização da obra. Estamos esperando até hoje. O
povo não teve espaço para se manifestar, não houve diálogo”, ressaltou.
Dom Erwin ainda salientou as mazelas em
que vive a população de Altamira. “Eu sei disso porque eu vivo lá! Cerca
de 40 mil pessoas serão atingidas e ainda não se sabe para onde eles
vão. As escolas estão sucateadas, não há vagas nos hospitais, a
prostituição e a violência ocorrem à luz do dia e a céu aberto.” O bispo
prelado do Xingu e presidente do CIMI ainda destacou as extensas e
intensas jornadas de trabalho e a grande especulação imobiliária que
ocorreu na região. “Um aluguel que antes custava R$ 300 hoje custa R$ 2
mil.”
Com relação a Belo Monte, o governo
federal afirmou que nenhum índio seria atingido, mas, segundo dom Erwin,
trata-se de falácia. “Vão cortar as águas dos povos indígenas e eles
sobreviverão como? O que acontece ao povo daquela região é contra a
dignidade humana. O governo discrimina este povo e nos trata como
brasileiros de segunda classe.”
Dom Guilherme reforçou o posicionamento
de dom Erwin e contou que participou, na semana passada em Brasília
(DF), de um debate entre o governo federal e atingidos por barragens.
“Ouvimos do ministro de Minas e Energia (Edson Lobão) que o Brasil deve
optar entre desenvolvimento ou não, em ter as usinas ou não. Dizem que
as usinas geram energia limpa, mas elas não podem ser assim
consideradas. Como chamar de energia limpa quando as terras mais férteis
são inundadas, quando há grandes impactos ambientais e sociais?”,
questionou.
Durante a manhã desta segunda-feira, foi
aprovado, por unanimidade, um projeto que deverá promover a
solidariedade entre as dioceses nos próximos cinco anos. A partir de
agora 1% da receita ordinária mensal de cada diocese irá compor um fundo
que será utilizado na formação de seminaristas das dioceses mais
pobres.
A respeito da laicidade do Estado, o
cardeal Odilo Scherer explicou que a Igreja não tem problemas com esta
questão. “O Estado não pode assumir uma identidade religiosa, de outro
lado, o pensamento ateu não pode prevalecer”, declarou o arcebispo. “O
Estado é laico, mas a sociedade é religiosa.”
A Cáritas Brasileira, representada por
dom Flávio Giovenale, presidente da entidade, e Maria Cristina dos
Anjos, diretora executiva nacional, participa da 50ª AG dos Bispos do
Brasil que ocorre até a próxima quinta-feira, 26 de abril, em Aparecida
(SP).
FONTE: Cáritas Brasileira.
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por Thays Puzzi, assessora de Comunicação da Cáritas Brasileira / Secretariado Nacional, com informações da CNBB