quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CÁRITAS DIOCESANA DE LIMOEIRO DO NORTE VIVE MOMENTOS DE AVALIAÇÕES E PLANEJAMENTOS

Dizem que a origem da palavra “recordar” vem do latim re-cordis que significa, mais ou menos, fazer passar novamente pelo coração...

Estamos vivendo um período de muitas movimentações, principalmente internas. Para nós da Cáritas chegar aos últimos meses de mais um ano que passa é muito mais do que simplesmente nos alimentar de nostalgias, lembranças de coisas que passaram, como a correnteza do rio. Também, mas não só...
Neste fim de ano, particularmente, estamos entrando em um processo de avaliações e planejamentos das nossas ações para os próximos 3 anos. É a ação Cáritas pensada a partir do que chamamos de PLANO TRIENAL. Avaliar ações executadas em três anos passados e olhar essa mesma avaliação para construir ações para os próximos 3 anos, exige um olhar atento e profundo para a realidade dos grupos e pessoas onde esta ação se deu e se dá... É o que estamos fazendo neste período de fim de ano.
Entendemos que uma avaliação dessa natureza só é possível de ser feita, com profundidade e eficácia, se se envolve diretamente as mulheres e homens que fazem acontecer, no dia a dia, a execução dos projetos acompanhados. Por isso, estivemos, enquanto equipe técnica, nos grupos que acompanhamos para fazermos essa avaliação: Catadores e Catadoras de Russas, Quixeré, Aracati e Limoeiro; comunidades de Potiretama.
            Foi um tempo bonito, tempo de olharmos para a Vida com mais profundidade. Acertos e desacertos se mostram, revelando apelos para crescer, repensar nossas ações, resignificá-las, reestruturá-las... Para isso, foi preciso sistematizar tudo isso Recordado e re-vivido, com a intensidade e profundidade Cáritas de ser e fazer as coisas.
Foi o que fizemos depois no escritório e, particularmente, em São João do Jaguaribe. Nos reunimos, enquanto equipe técnica e diretoria da Cáritas, para olhar as sistematizações das nossas avaliações nos grupos e delinear pistas de ações para as portas que se abrem no caminho que temos diante de nós, bem como de reconhecer outras que se fecham a partir do caminho trilhado. Momento também de avaliar nossa estrutura de gestão. Momento de partilha como mulheres e homens que são essa Família da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte... Momento para rir e também chorar, para alimentar nosso corpo: que é coração e alma...
            O trabalho agora é de recolhimento de tudo isso e estruturação mesma do nosso planejamento, trabalho mais interno, mais técnico. Além disso, também estruturarmos nossa ação com a ação Cáritas Regional e Nacional, numa mesma rede de solidariedade. Por isso, estaremos nos encontrando para avaliarmos nossa ação enquanto Regional...
            De fato, para nós da Cáritas, esse é um período de muitas intensidades... e não poderia ser diferente, já que é o período em que celebramos o acontecimento histórico e teológico mais importante da história da salvação: Deus assume nossa história humana e se a cerca de nós como gente... Mais ainda, se a cerca como criança, como pobre... Enfim, nos mostra que é possível alimentar e promover a Vida a partir das nossas lutas e esperanças.
É um pouco isso que estamos tentando fazer e queremos continuar sempre contando com a presença e colaboração de amigos e amigas que, com suas colaborações (das mais diversas formas), vem somando e ampliando essa rede de solidariedade Cáritas.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

MENSAGEM DA CÁRITAS BRASILEIRA


      A Cáritas Brasileira, reunida em Passo Fundo – RS nos dias 09 a 12 de novembro de 2011, para a realização de seu 4º. CONGRESSO E XVIII ASSEMBLEIA, com 320 pessoas enviadas pelas entidades-membro e regionais, quer trazer para todas as comunidades eclesiais, organismos e pastorais, movimentos sociais, entidades parceiras e toda a sociedade brasileira uma mensagem de esperança.
      Com a motivação bíblica da Parábola do Semeador, aprofundamos a nossa compreensão sobre DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO SUSTENTÁVEL E TERRITORIAL com base nas experiências concretas que a Cáritas, nos diversos estados brasileiros, vem desenvolvendo nos últimos anos. Essas experiências são as SEMENTES DE UM PROJETO POPULAR de sociedade que buscamos construir tendo como base o respeito à dignidade humana e a defesa e promoção de vida plena para todas as pessoas. (Cf. Jo,10,10)
      Este Congresso está acontecendo em meio a uma realidade carregada de sinais contraditórios. Por um lado, somos testemunhas de que, em todas as regiões, há iniciativas de economia solidária, agroecologia, revalorização das culturas dos povos e comunidades tradicionais e mobilização social e controle de políticas públicas. Elas fazem parte do esforço dos empobrecidos para superar a marginalização social e, ao mesmo tempo, são parte da construção do outro desenvolvimento econômico e social, assentado sobre os valores da solidariedade, sustentabilidade e realizado na diversidade dos territórios. O amor a todas as formas de vida geradas pela Mãe Terra e o amor aos irmãos e irmãs em humanidade é seu fundamento mais profundo.
      Por outro lado, estas e muitas outras iniciativas populares enfrentam as consequências de mais uma crise financeira mundial, que não foi causada pelos empobrecidos, mas é deles que os setores dominantes estão cobrando mais sacrifícios. No Brasil, o esforço para evitar o contágio dessa crise está assentado no aumento de investimentos públicos em grandes obras do PAC e da Copa de 2014; no congelamento das rendas da população trabalhadora e no estímulo ao consumo por meio da oferta de crédito mais facilitado. Para agilizar as grandes obras, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário estão tomando decisões que colocam em risco áreas de preservação permanente e outras áreas ricas em biodiversidade; expulsam comunidades humanas sem respeito aos seus laços de parentesco e vizinhança e promovem a retirada da população de rua, em criminosas operações de “higienização” urbana, sem reconhecer seus direitos e necessidades.
      Queremos tornar pública nossa posição especialmente em relação a três processos em curso: a mudança do Código Florestal, a criminalização dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e negação de direitos dos povos indígenas, das comunidades quilombolas e dos camponeses.
      Em relação ao Código, deixamos claro que sua nova formulação só será aceitável se definir com clareza normas em favor da defesa do meio ambiente, evitando o cancelamento das dívidas dos grandes proprietários que agrediram a natureza e brechas legais para uma maior destruição do que resta de cobertura vegetal e florestas da Amazônia e dos demais biomas brasileiros. O Código Florestal precisa determinar, com clareza, dispositivos de proteção aos pequenos agricultores, reconhecendo sua importância para a preservação ambiental, com medidas adequadas para que não se inviabilize sua permanência na terra e seja reconhecida sua grande contribuição ao país com a produção de alimentos.
      Como membros da Cáritas, queremos continuar prestando nossa contribuição ao povo brasileiro através de projetos e programas apoiados por doações voluntárias ou recursos públicos. Reconhecemos as atribuições do Estado e da sociedade civil na formulação e execução de políticas públicas. Por isso, questionamos as medidas adotadas pelo Governo que atingem indistintamente movimentos sociais e organizações da sociedade civil, especialmente a suspensão temporária de projetos sociais que contam com recursos públicos. Se há práticas de corrupção, que sejam fiscalizadas e processadas, aplicando as penas previstas em lei. Se, contudo, a gestão dos recursos está sendo feita com cuidado dentro das finalidades previstas, a suspensão unilateral do governo é uma injustiça com as entidades responsáveis e um grave prejuízo para a população. Exigimos, por isso, a retomada imediata da aprovação de projetos e a liberação dos recursos comprometidos para as entidades em que não há desvios; exigimos, igualmente, que se avance mais rapidamente nos trabalhos que visam a definição do novo marco regulatório das organizações da sociedade civil.
      Em relação aos povos indígenas, às comunidades tradicionais e aos camponeses, consideramos um desrespeito à Constituição e aos seus direitos o fato que, nos últimos anos, tenham sido praticamente suspensos os processos de reconhecimento e demarcação de territórios indígenas e quilombolas e o processo de reforma agrária. Exigimos que o governo retome de imediato esses processos de demarcação de territórios e de reforma agrária, em diálogo e com participação das organizações indígenas, quilombolas e camponesas, garantindo suas ricas e diversificadas formas de vida e ampliando a produção agroecológica de alimentos.
      Sob a inspiração da prática e da palavra de Jesus de Nazaré e dos empobrecidos com quem fazemos caminhos de libertação, reafirmamos os seguintes compromissos:

  • lutar pela democratização do Estado através do fortalecimento da democracia participativa, visando a construção de uma sociedade de Bem Viver;
  • promover uma cultura de direitos e de emancipação baseada nos princípios éticos de respeito à vida;
  • empenhar-nos na promoção do protagonismo da juventude, aliando-nos às suas lutas específicas em vista da concretização dos seus direitos;
  • lutar por políticas públicas de prevenção e de recuperação das condições de vida dos atingidos por desastres socioambientais;
  • trabalhar, junto com as comunidades tradicionais, pelo respeito à sua cultura e pelo reconhecimento do direito a suas formas de vida e aos seus territórios;
  • apoiar as lutas pela reforma urbana, pelo direito à cidade onde as pessoas que nela moram vivam com dignidade;
  • investir na formação de agentes, visando seu crescimento pessoal, seu envolvimento na missão da Cáritas e fortalecendo uma prática de voluntariado ativo, militante e comprometido;
  • estimular a constituição dos Fundos Solidários, garantindo autonomia nas ações em favor e junto com os excluídos;
  • aprofundar a prática de trabalho em rede com as CEB´s, pastorais e movimentos sociais, com organizações da sociedade civil, visando maior capacidade de incidência em políticas públicas.

      Sob a proteção de Maria, mãe de Jesus e nossa, queremos acolher os apelos do povo que clama por paz e vida digna, fazendo sempre o que está ao nosso alcance. Amém, axé, auêre, aleluia!

IV Congresso Nacional da Cáritas Brasileira reforça compromisso com os mais pobres

  FONTE: Cáritas Brasileira.

      Uma grande colcha de retalhos com todas as entidades-membro da Cáritas Brasileira foi costurada como forma de compromisso.
      Dos dias 9 a 12 de novembro, cerca de 350 agentes da Cáritas Brasileira de todo Brasil estiveram reunidos em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, para o IV Congresso e XVIII Assembleia Nacional da entidade.
      Com o tema “Desenvolvimento Solidário Sustentável e Territorial: Sementes de um Projeto Popular”, os congressistas, dentre diversas atividades culturais que animaram os quatro dias do encontro, avaliaram as ações desenvolvidas pela rede no último quadriênio (2008-2011), definiram as prioridades para os próximos quatro anos (2012-2015), elegeram a nova diretoria e conselho fiscal e aprofundaram debates sobre a temática que permeou todas as atividades do IV Congresso Nacional da Cáritas Brasileira.
       Dom Flávio Giovenali, da Diocese de Abaetetuba, no estado do Pará, foi eleito com 63% dos votos para ocupar o cargo de presidente da entidade nos próximo quatro anos. No total, 117 delegados participaram deste processo. Dom Flávio recebeu 74 votos e dom Guilherme Antônio Werlang, da diocese de Ipameri (GO), ficou com 43. Anadete Gonçalves Reis, do Distrito Federal, foi reeleita para a vice-presidência da entidade com 99% dos votos. O cargo de diretor secretário ficou com Pe. Evaldo Praça Ferreira, de Minas Gerais, e Agnaldo Lima, de São Paulo, será foi eleito o novo diretor tesoureiro da entidade.
      Já o Conselho Fiscal contará com Clea Amorim (MG), Lucineide Rodrigues (SP) e Otília Balio (BA) como titulares, e padre Wilson Buss (SC), Adão José Piva (SP) e José Albero de Souza (SP) como suplentes. A nova diretoria e conselho fiscal tomam posse no início de 2012.
      Durante o evento também foram definidas a diretriz geral de ação e as prioridades estratégicas que são:

DIRETRIZ GERAL DE AÇÃO: A Cáritas Brasileira se compromete com a construção do Desenvolvimento Solidário Sustentável e Territorial, na perspectiva de um projeto popular de sociedade democrática.

PRIORIDADES ESTRATÉGICAS
I – Promoção e fortalecimento de iniciativas locais e territoriais de desenvolvimento solidário e sustentável;
II – Defesa e promoção de direitos, mobilizações e controle social das políticas públicas;
III – Organização e fortalecimento da Rede Cáritas.

      No dia 12, último dia do IV Congresso e XVIII Assembleia Nacional da Cáritas Brasileira, ocorreu a entrega do II Prêmio Odair Firmino de Solidariedade. O terceiro lugar ficou com o Grupo de Produção Rural Serra Gavião (PI). A experiência Começar de Novo (MG) foi a segunda classificada e A Luta das Mulheres Indígenas – Comisulba (BA) ficou com o primeiro lugar do prêmio. As três finalistas, além de um troféu e certificado, receberam um prêmio em dinheiro no valor de R$ 10 mil para o primeiro lugar, R$ 5 mil para o segundo e um prêmio de R$ 3 mil para o terceiro.
Equipe de Comunicação Cáritas Brasileira

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Secularismo no Brasil: o novo desafio da Igreja.



Dois terços da população católica do mundo, hoje, está no hemisfério Sul, uma parcela que deve chegar a três quartos até a metade do século. Para discernir para onde a Igreja está direcionada, é fundamental olhar para o que está borbulhando no Sul, e algumas histórias recentes merecem estar na tela do radar católico mundial.

Uma delas vem do Brasil, uma superpotência católica, entre os quatro principais países católicos em termos de população, destinado a ser um definidor do ritmo da Igreja do século XXI.

No Brasil, um respeitado instituto nacional de pesquisa, a Fundação Getúlio Vargas, publicou um novo estudo que sugere que o secularismo – definido, neste caso, como o ato de jogar a toalha em termos de fé e prática religiosas – está fazendo rápidas incursões entre os jovens brasileiros. Com base em 200 mil entrevistas realizadas para o Censo do Brasil de 2010, o estudo conclui que a parcela católica da população brasileira caiu para 68%, seu nível mais baixo desde que os dados do censo começaram a ser coletados em 1872, em parte por causa do elevado percentual de jovens que negam ter qualquer filiação religiosa.

A principal conclusão é a seguinte: o número de pessoas com menos de 20 anos que dizem não seguir nenhuma religião está crescendo três vezes mais rapidamente do que entre as pessoas com mais de 50 anos, sendo que 9% dos jovens brasileiros dizem não pertencer a nenhuma religião.

Esses resultados vão no rastro de outros dados do Brasil. Em 2007, o Pe. José Oscar Beozzo, que dirige o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, em São Paulo, disse que, entre 1980 e 2000, o percentual da população brasileira que se identifica como protestante, cuja maioria é pentecostal, subiu de 12% para 17%. No mesmo período, o percentual de pessoas sem filiação religiosa passou de 0,7% para 7,3%, um aumento de dez vezes.

"Esse é o movimento infinitamente mais importante na situação religiosa brasileira", disse Beozzo na época.

Em termos numéricos, o Brasil é o maior país católico do mundo, com seus 163 milhões de católicos, que representam 85% da população. Esses, entretanto, são os totais batismais, enquanto o novo estudo reflete a parcela que realmente se identifica como católica. Entre outras coisas, a diferença entre os dois indica que 17% dos brasileiros hoje nasceram católicos mas posteriormente abandonaram a Igreja.

Abundam as explicações díspares, com vários comentaristas apontando para alguma versão de pelo menos quatro teorias:

•O boom econômico do Brasil, que convenceu uma parte da juventude de hoje que eles simplesmente não precisam da religião;
•Suposto distanciamento e arrogância por parte do oficialismo católico, combinado com elementos da doutrina da Igreja que não lidam bem com a juventude de mente progressista, incluindo as posições da Igreja sobre aborto, contracepção e homossexualidade (não surpreendentemente, essa ideia é especialmente popular na ala liberal da Igreja brasileira);
•Uma excessiva concentração na política por parte da Igreja brasileira, especialmente do que restou do movimento da teologia da libertação, com o resultado de que os jovens de hoje estão espiritualmente à deriva (esse tende a ser a explicação favorita da direita católica);
•A crescente falta de padres no Brasil, juntamente com as dificuldades na mobilização de leigos para compensá-la (isso é o que muitas vezes se ouve da linha de frente dos agentes de pastoral do país).
Qualquer que seja a explicação que se favoreça, a imagem básica parece clara: uma parcela crescente da geração mais jovem do Brasil está efetivamente se secularizando.

Isso poderia ter implicações para além das fronteiras do país, porque, dada a nova força econômica e política do Brasil, as tendências locais envolvem um vigor regional e internacional mais amplo.

Dois pensamentos sobre o significado disso:

Primeiro, a pergunta do milhão sobre a religião no hemisfério Sul foi, durante muito tempo, se o progresso econômico e político necessariamente andaria lado a lado com a secularização. Não parece haver nenhuma lei férrea. O crescimento econômico da China no último quarto de século, por exemplo, foi acompanhado por uma explosão espiritual.

No entanto, esse parece ser o caso do Brasil, que leva à seguinte reflexão: a América Latina, em alguns aspectos, está mais próxima dos padrões históricos da Europa, em que a Igreja Católica tradicionalmente foi um monopólio imposto pelo Estado. Se o secularismo tomar conta da América Latina mais do que outras regiões, isso poderia ser a confirmação final de que confiar no poder do Estado é, a longo prazo, sempre perigoso para a fé?

Segundo, a ideia fixa da classe dirigente da Igreja no Ocidente se tornou a defesa da identidade católica, como um meio de proteger a Igreja contra a sua assimilação pelo secularismo. Em termos sociológicos, essa é uma "política da identidade", que é um mecanismo de defesa clássico para subculturas em apuros. Os desdobramentos no Brasil sugerem que políticas de identidade semelhantes poderiam tomar forma em outras partes do mundo católico, dando a essa tendência ainda mais resistência.


Autor: John L. Allen Jr.,
Fonte: AMAI-VOS.

A era do lixo. ''Ele está visceralmente associado ao atual modo de vida''. Entrevista especial com Maurício Waldman

A humanidade está movimentando cerca de 48 bilhões de toneladas de materiais por ano, mas, desse valor, “30 bilhões viram lixo”, informa Maurício Waldman à IHU On-Line. Na era do consumo descartável, as classes “abastadas” geram cerca de 1,5 a 2,0 kg/hab/dia de resíduos, enquanto entre os mais pobres o grau de resíduos despenca para 0,3 kg/hab/dia. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o pesquisador esclarece que esses dados demonstram que as “estatísticas mascaram contrastes sociais ao diluírem o volume total de lixo gerado dividindo-o pelo conjunto da população”.
Para reverter a produção excessiva de lixo, Waldman enfatiza a necessidade de “rever os processos produtivos, que se pautam pela descartabilidade premeditada dos produtos, que precocemente se tornam obsoletos”. E compara: “Em 1997, a vida útil de um computador era em média seis anos. Mas, hoje em dia a validade desses equipamentos foi abreviada para apenas dois”.
Autor do livro Lixo: cenários e desafios (Cortez, 2011), ele também comenta o Plano Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, que está em consulta pública no site do Ministério do Meio Ambiente após permanecer 19 anos no Congresso. Entre as críticas, Waldman faz referência às brechas para o avanço da incineração do lixo no país. “Alemanha, Bélgica, Suécia, Irlanda, Países Baixos e os Estados Unidos certamente possuem incineradores. Mas nesses países os índices de reciclagem são respectivamente 48%, 35%, 35%, 32%, 32% e 31%. Devemos salientar que a última porcentagem refere-se aos EUA, considerado campeão mundial de desperdício. Entretanto, como se sabe patinamos em míseros 13%! Como então propor queimar lixo quando temos tanto o que avançar na recuperação dos materiais descartados?”, questiona.
Maurício Waldman é graduado em Ciências Sociais, mestre em Antropologia Social e doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo – USP, com a tese Água e metrópole: limites e expectativas do tempo (2006). Cursou o pós-doutorado no Instituto de Geociências da Universidade de Campinas – Unicamp. Foi professor da Unicamp e atualmente é colaborador no site Geografia e Cartografia – Geocarto e do Centro de Estudos Africanos da USP – CEA-USP.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Desde quando o Brasil investe em políticas públicas para tratar da questão do lixo?
Maurício Waldman – A expressão política pública tornou-se corriqueira nos últimos anos e ganhou um significado quase icônico no imaginário social. No senso comum, a terminologia é entendida como um conjunto de práticas que visam garantir a qualidade do serviço administrativo, beneficiando o conjunto da população. Todavia, devemos recordar que o Estado interage com diversas forças sociais, representativas de atores que, muitas vezes, sustentam posições antagônicas entre si. Além disso, a gestão administrativa é impactada por toda sorte de inferências culturais, sociais, políticas e econômicas conjunturais. Com esses reparos em vista, já em 1830, em pleno Primeiro Império Brasileiro, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro manifestou-se a respeito da limpeza pública.

IHU On-Line – E o que ela dispôs?

Maurício Waldman – Olha que curioso: os autos da normatização consideravam que a atribuição do serviço de coleta de lixo, além da limpeza, varrição das ruas, praças e logradouros, incluía a retirada de loucos e bêbados que estivessem perambulando pelas vias da cidade, assim como o apresamento de animais ferozes e de outros que pudessem incomodar a população. Esse decreto demonstra de forma emblemática como a questão do lixo ao se inserir diferencialmente no tempo, no espaço e na cultura induz diferentes modos de apreciação e sistemas de gerenciamento dos resíduos. Para complementar, seria pertinente recordar que, de um ponto de vista sociológico, a ausência de “políticas públicas” não significa inexistência de normas objetivas. Afinal, uma “não política” pública também é uma política.

IHU On-Line – Considerando o aumento populacional e a produção de resíduos, quais os maiores desafios do Brasil em relação ao lixo produzido?

Maurício Waldman – É preciso primeiramente ressalvar que, de um ponto de vista geográfico e sociológico, não é correto tecer correlações associando mecanicamente o aumento populacional com a geração de lixo. Na realidade, o lixo tem se expandido numa proporção que ultrapassa em muito o incremento demográfico. Para exemplificar, entre 1991-2000, a população brasileira cresceu 15,6%. Mas os descartes expandiram 49%. Em 2009, o incremento demográfico foi da ordem de 1%. Mas os rejeitos aumentaram 6%.

 IHU On-Line – Como então observar o processo de geração de lixo?

Maurício Waldman – Um recorte fundamental é o que associa o lixo às dinâmicas socioespaciais. Então, mais do que a demografia, pesam com muito mais ênfase as correlações sociais. Nesse exato sentido, os resíduos sólidos brasileiros são extremamente dessimétricos. Isto é, possuem analogias com as injunções que gravam a sociedade nacional com a marca da disparidade. Nessa perspectiva, um aspecto matricial é o fato de fração significativa do lixo domiciliar brasileiro ser gerado por pequeno número de núcleos urbanos. As 13 cidades mais populosas do país (agregando um quinto dos brasileiros) perfazem 31,9% do lixo residencial. Na sequência, as 200 municipalidades mais populosas (3,59% do total dos municípios brasileiros) são responsáveis por 60% do lixo urbano.

IHU On-Line – E do ponto de vista social, como se coloca essa questão?

Maurício Waldman – Um ponto a ser destacado preliminarmente é que o Brasil tem sido recorrentemente apontado como um dos países mais desiguais do mundo. Mesmo as políticas de geração de renda e medidas de alcance social como Bolsa Família não têm alterado esse quadro geral. O país se mantém na condição dos mais dessimétricos do planeta. Ora, não há como as contradições sociais não estarem corporificadas no lixo. Num plano meramente quantitativo, no Brasil a geração de resíduos oscila entre 1,5 e 2,0 kg/hab/dia (ou mais) de rebotalhos nas classes abastadas. Porém, esse coeficiente desaba para 0,3 kg/hab/dia (ou menos) nos segmentos mais pobres.
Nesse entendimento, fica claro que muitas estatísticas mascaram contrastes sociais ao diluírem o volume total de lixo gerado dividindo-o pelo conjunto da população. Assim, fornecem “médias” que refletem uma noção de cidadão abstrato e, portanto, prestigiando responsáveis indiferenciados pelo descarte do lixo. Alerte-se que as estatísticas mostram especial predileção em avaliar os resíduos enquanto um resultado, esquecendo-se da sua filiação a processos, essenciais para entender a maximização da geração de lixo no país nos últimos anos.

IHU On-Line – O senhor considera que o lixo pode inviabilizar a sociedade humana. Em que sentido?

Maurício Waldman – Sim. Em dois sentidos: quantitativo e qualitativo. Num dos artigos acadêmicos que disponibilizei nesse ano, convidei os leitores a refletirem com base em montantes concretos de rejeitos. Sabe-se que, do ponto de vista quantitativo, a natureza movimenta, em seu ciclo normal formado pela movimentação da crosta, vulcanismo, processos erosivos, etc., cerca 50 bilhões de toneladas de materiais por ano. A humanidade, por sua vez, está movimentando 48 bilhões de toneladas no mesmo período. É como existisse uma segunda natureza agindo no planeta! Duro ainda é saber que desses 48 bilhões, 30 bilhões viram lixo. Daí que não há como não perceber que o lixo está para tudo quanto é lado. Existe até mesmo um continente artificial de detritos em formação no Pacífico. Trata-se de um território formado por 100 milhões de toneladas de refugos, conhecido como Grande Vórtice de Lixo do Pacífico. Estima-se que a superfície ocupada por esse novo “continente” seja de 15.000.000 de km². Em suma: quase duas vezes a extensão do Brasil, uma vez e meia a área da Europa, metade da África ou 8% da superfície do Pacífico, o maior dos oceanos do globo terrestre. Assim, tendo o problema do lixo assumido proporções tão dantescas, como discordar do geógrafo francês Jean Gottman, que certa vez definiu provocativamente a época atual como uma Era do Lixo. Quem ousaria dizer que ele está enganado?

IHU On-Line – E no sentido qualitativo, o que acontece?

Maurício Waldman – Contrariamente às primeiras civilizações da história, a sociedade moderna é a primeira na qual o lixo se tornou eminentemente artificial. Dito de outro modo, ele é formado por substâncias e materiais que são absorvidos com dificuldade pelos ciclos naturais ou, então, representam um perigo real para todas as formas de vida. Note que as três substâncias mais perigosas conhecidas pela ciência são resíduos: as dioxinas (que resultam da combustão do lixo), o chorume (que provém da degradação da fração úmida do lixo urbano) e o plutônio (que é o lixo nuclear). Não há qualquer sombra de dúvida: se algo não for feito urgentemente, os detritos poderão sepultar e envenenar a sociedade humana, afetando-a de um modo que não têm precedentes.

IHU On-Line – O lixo eletrônico também se tornou um problema para a humanidade? É possível reciclar esse material?

Maurício Waldman – Vários levantamentos confirmam que tal classe de detritos representa cerca de 5% do lixo urbano planetário. Seriam então 50 milhões de toneladas anuais de resíduo eletrônico, um volume suficiente para lotar vagões ferroviários de carga dando volta completa na circunferência terrestre. O preocupante é que esses rebotalhos poderão simplesmente triplicar em poucos anos. Isso sem contar que já existem cerca de 4,8 bilhões de toneladas desse tipo de lixo amontoadas sabe-se lá como. E retomando a questão da artificialidade do lixo contemporâneo citada na resposta anterior, os restos eletrônicos são um estorvo ambiental de primeira linha. Um simples monitor pode requerer 300 anos para se decompor. É perturbador saber que a sucata eletrônica chega a perfazer 70% dos metais pesados presentes no solo e em corpos aquáticos e que, ademais, é reciclada, quando muito, na proporção de somente 10%. É claro, que a reciclagem por si só não resolve o problema como um todo. Mas ajuda!

IHU On-Line – Como evitar esse problema numa época em que a obsolescência tecnológica impera?

Maurício Waldman – É preciso rever os processos produtivos que se pautam pela descartabilidade premeditada dos produtos, os quais precocemente se tornam obsoletos. Em 1997, a vida útil de um computador era em média seis anos. Hoje em dia a validade desses equipamentos foi abreviada para apenas dois. Desse modo, além das pessoas refrearem seus impulsos consumistas, trocando de celular, de TV e de computador a torto e a direito, a indústria tem que fazer a sua lição de casa. Definitivamente e de uma vez por todas, a era do obsoleto tem que acabar. 

IHU On-Line – O senhor aponta que os brasileiros descartam 5,5% dos resíduos planetários. O que esse percentual representa, considerando o tamanho do planeta?

Maurício Waldman – Muito ou pouco em si mesmo não existe. Precisamos sempre recorrer a um enfoque relacional para melhor aquilatar o significado real das cifras com as quais trabalhamos. Nessa sequência, importaria ressalvar que, conquanto a população brasileira seja equivalente a 3,0% do total mundial e que seu PIB corresponda a 3,5% da riqueza global, descartamos 5,5% dos resíduos planetários. Não precisa ser matemático ou geógrafo para notar a disparidade desses números. Mais ainda: que algo profundamente errado caracteriza esse processo.
Outro bom parâmetro é a metrópole de São Paulo. Faz tempo que a capital paulista consta como a terceira cidade no mundo que mais descarta restos. Na competição em gerar lixo, São Paulo só perde para Nova Iorque e Tóquio. Entretanto, quem disse que São Paulo é a terceira cidade mais rica do globo? Não é de jeito nenhum. De acordo com diversas fontes e na melhor das hipóteses, é o décimo PIB urbano mundial. Então como pode ser a terceira no ranking de ejeção de lixo? Por certo, o que podemos abstrair dessas cifras e das contradições que inserem, é que o Brasil é um grande gerador mundial de lixo e, ao mesmo tempo, que sua problemática de resíduos não é redutível a fórmulas econométricas clássicas. Como disse, temos que começar a pensar processos e não apenas os resultados.

IHU On-Line – O senhor também destaca que apenas 13% dos resíduos secos gerados no país são recuperados, e que apenas 2% são coletados pelos programas de Coleta Seletiva de Lixo. O que dificulta, em sua avaliação, a adesão dos municípios brasileiros à coleta seletiva?

Maurício Waldman – Há um aspecto objetivo que contribui, e muito, para explicar a razão da baixa inserção dos programas de Coleta Seletiva de Lixo (CSL) nos circuitos que abastecem a indústria recicladora. Indo direto ao ponto, um aspecto reporta ao seu elevado custo operacional. Conforme registrei no meu livro Lixo: cenários e desafios, as planilhas de custos e de retornos obtidos com a reciclagem apuram que para cada 10 dólares investidos nos programas, a média da receita é R$ 1,30. Outro indicador é que o custo médio da CSL, orçado em US$ 221/t em 2008, é cerca de cinco vezes mais alto do que a coleta convencional. Claro que isso poderia ser objetado com o argumento que existem benefícios ambientais que nunca são contabilizados pelos economistas tradicionais. As aferições de custo são recidivamente contábeis e não visualizam o processo como um todo, particularmente nas suas interfaces ambientais. Mas do ponto de vista logístico, é inegável que ainda não foi inventado nenhum processo mais eficiente do que a catação. Nesse sentido, o interessante mesmo seria apoiar os catadores, que, na opinião de muitos especialistas, são com razão os grandes heróis ambientais do Brasil urbano. Os que dizem que a situação do lixo no Brasil está um caos, não fazem nem ideia das dimensões da catástrofe na hipótese de cessar a atuação dos catadores. Aí sim as pessoas veriam o que é calamidade de verdade.

IHU On-Line – Como vê a questão das cooperativas que devem gerir os resíduos sólidos, como sugere o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, aprovado em agosto do ano passado?

Maurício Waldman – Em continuidade com o que coloquei, os catadores são fundamentais para a gestão do lixo e manutenção dos equilíbrios ambientais no meio urbano. Seria, nessa perspectiva, melhor percebê-los pelo que de fato são: trabalhadores que se dedicam à recuperação de materiais recicláveis. Todavia, recorde-se que, a despeito da capital importância dos catadores, sua atuação encontra forte resistência em muitos setores da sociedade. Pesa sobre os catadores o estigma da maledicência do lixo.
Embora seu trabalho seja útil e imprescindível, sua presença no campo visual incomoda muitos setores abastados, o que explica desde a má vontade em apoiá-los até as mais descaradas práticas persecutórias. Uma pregação constante, por vezes apaixonada, coberta de objeções éticas e morais, eventualmente apelando para um receituário com conotações racistas, pode ser notada no discurso de muitos setores contra os catadores. Isso contribui para entender por que em 2010, do universo de 5.565 municípios brasileiros, apenas 142  ou seja, 2,5% do total  mantinham parceria com associações de catadores. Trata-se de uma realidade que precisa ser alterada urgentemente, com a implementação de políticas públicas efetivas favoráveis à catação.

IHU On-Line – E as cooperativas? Como tem sido sua implantação?

Maurício Waldman – É importante lembrar que, apesar de idealmente muito atraentes, as cooperativas têm avançado lentamente, sendo uma das razões as dificuldades da sua implantação junto aos próprios catadores. Convém não esquecer, a população catadora se consolidou ao longo de amplo histórico de repúdio institucional e social. Muitos dos catadores são sem teto, vítimas da exclusão e pessoas que perderam para sempre seus postos no mercado formal de trabalho. Eles enfrentaram a solidão do desamparo, a falta de oportunidades e a agressão contínua das instituições públicas. Não admira, pois que aprenderam a agir por conta própria, base de um “empreendedorismo” que alguns analistas identificam no comportamento da categoria.

IHU On-Line – O que fazer então?

Maurício Waldman – A constituição de fundos cooperativos, proposta endossada por especialistas favoráveis à remuneração por serviços ambientais prestados pelos catadores  que eu pessoalmente entendo como medida óbvia e premente –, enfrenta diversos obstáculos, que devem ser pensados e/ou revistos com cautela. Dentre esses, o desafio de esboçar um desenho institucional que permita uma gestão que não seja demasiadamente complexa para ser operacionalizada. Além disso, riscos inerentes associados às atividades de financiamento e microcrédito, caracterizadas por elevadas taxas de inadimplência e conflitos potenciais com as agências financiadoras, devem ser adequadamente administrados e diferencialmente monitorados.

IHU On-Line – Como avalia o Plano Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, que está em consulta pública no site do Ministério do Meio Ambiente? Que aspectos deveriam fazer parte da Política Pública de Resíduos Sólidos?

Maurício Waldman – Em primeiro lugar, tenho ressalvas relativas à euforia que muitos devotam ao PNRS. Estamos num país onde as leis podem “pegar” ou não. Aliás, o próprio PNRS teve um longo “parto” para ser aprovado: o projeto perambulou pelos corredores do Congresso durante 19 longos anos! Durante esse período, o país observou a multiplicação dos lixões, o descaso com a reciclagem e o descalabro da distribuição gratuita de sacolinhas pelo comércio. Mais: a ausência de um marco legal implicou na perda de milhões de toneladas de materiais úteis; impactou ecologicamente vastos espaços; trouxe prejuízos para a saúde da população; contribuiu para a persistência de posturas criminalizando os catadores. Isso apesar de, como foi colocado, tais trabalhadores prestarem serviço ambiental inestimável para a sociedade. Por fim, eu diria que, apesar da lei ser bem-vinda num país que se destaca na geração de lixo, ela tem abordagens que seriam passíveis de ajustes e correções.

IHU On-Line – Quais seriam esses aspectos?

Maurício Waldman – O primeiro deles reporta a uma questão conceitual. A temática do lixo está visceralmente associada ao modo de vida moderno. Vivemos numa sociedade que  como dizia o pensador francês Abraham Moles  produz para consumir e cria para produzir, num ciclo onde a noção fundamental é a velocidade e a descartabilidade dos materiais enquanto vetor fundamental. Ora, isso sugere que, além dos “R” de Reduzir, Reutilizar e Reciclar  que constam no PNRS , seria necessário agregar outro “R” ainda mais essencial: o de Repensar as modalidades de produzir, consumir e descartar. Por definição, lixo não se resume ao saquinho que colocamos na calçada. Sua gênese encontra primeiramente abrigo em noções culturalmente aceitas de status e de consumo, acepções que solicitam revisão urgente.
O PNRS abre brechas para o avanço da incineração, o que na opinião de boa parte da comunidade de especialistas do lixo é um equívoco a toda prova. Não adianta tentar mascarar a incineração como sendo “verde” em razão de modelos mais avançados recuperarem a energia do lixo. Isso é uma falácia. De um modo ou de outro, os incineradores continuam a ser um problema.

IHU On-Line – Por quê?

Maurício Waldman – Em primeiríssimo lugar, vivemos no maior país solar do mundo. José Walter Bautista Vidal, engenheiro responsável pelo Programa Proálcool e considerado um dos cérebros privilegiados da engenharia nacional, lembra que o Brasil recebe do Sol por dia energia equivalente a  note bem  320.000 hidrelétricas de Itaipu! Isso todo o santo dia! Só esse argumento põe dúvidas sobre as tais usinas de incineração com recuperação de energia, assim como para as mega-hidrelétricas e as centrais nucleares. Em segundo lugar, dizer que estamos adotando tecnologia avançada de primeiro mundo com os incineradores é uma colocação pelo mínimo mal-intencionada. Alemanha, Bélgica, Suécia, Irlanda, os Países Baixos e os Estados Unidos certamente possuem incineradores. Mas nesses países os índices de reciclagem são respectivamente 48%, 35%, 35%, 32%, 32% e 31%. Devemos salientar que a última porcentagem refere-se aos EUA, considerado campeão mundial de desperdício. Entretanto, como se sabe patinamos em míseros 13%! Como então propor queimar lixo quando temos tanto o que avançar na recuperação dos materiais descartados? E o que dizer do custo desses equipamentos, da dependência tecnológica, das dioxinas, dos prejuízos para a reciclagem e das perdas que serão arcadas pelos catadores?

IHU On-Line – Qual é a maneira ideal de descartar o lixo? Lixões e aterros sanitários são locais adequados para concentrar tantos resíduos?

Maurício Waldman – Costumo dizer que o essencial é repensar nosso estilo de vida e, pela ordem, aplicar depois a Redução, Reutilização e a Reciclagem. Portanto, não acredito que os aterros sanitários  e muitíssimo menos os lixões  sejam uma solução ideal para gerenciar descartes. Certo é que essas instalações fazem parte da sistemática de gestão do lixo, até porque não existe sociedade que não gere rebotalhos. Essa história de lixo zero é pura e simplesmente uma peça de ficção. Mesmo com procedimentos criteriosos, teremos no final das contas que nos defrontarmos com restos que solicitam algum tipo de disposição e/ou confinamento adequado. Que seja então, em face das opções colocadas pela pergunta, o aterro sanitário. Nesses equipamentos, e ao contrário dos lixões, pelo menos os efluentes líquidos (chorume) e gasosos (metano), são drenados e monitorados. O que é fora de cogitação é a continuidade dos lixões no nosso país.

IHU On-Line – Qual a responsabilidade do consumidor quanto ao destino dos resíduos sólidos e do lixo produzido?

Maurício Waldman – É muito grande! O consumidor é o elo final da cadeia produtiva e de consumo. Como está colocado em Lixo: cenários e desafios, toda vez que o consumidor repensa suas compras e o uso que faz dos produtos, isso retroage positivamente no fluxo de materiais. Ou seja, é menos ferro retirado da terra, mais água na fonte, menos centrais de energia para serem construídas, mais alimento salvo do desperdício disponibilizado para a população. O consumidor consciente, juntamente com uma sociedade participante e um Estado atuante, é um ator privilegiado numa gestão integrada do lixo. Contudo, é importante ressalvar que o Estado cumpre uma função essencial em toda essa engenharia de gestão e monitoramento dos resíduos. Nesse sentido, vejo que as políticas públicas para os rejeitos devem frisar uma educação ambiental que atenda esse princípio básico.

IHU On-Line – Que direcionamento deveria existir para uma educação ambiental que atendesse essa prioridade?

Maurício Waldman – Creio que apelaria para o sociólogo Roberto Schwarz quando ele fala em ideias fora do lugar. Fico vendo a criançada na escola fazendo cartaz ambiental com pandas, baleias e o mico-leão-dourado. Também são comuns trabalhos centrados em florestas e outros ambientes que não fazem parte do dia a dia das pessoas. Ora, existe ideia ambiental mais fora do lugar do que isso? Indagaria: alguém manda e-mail para a baleia, é vizinho do panda? É cômodo demais dar aula sobre uma sustentabilidade que não integra o nosso cotidiano de vida.
Precisamos na realidade é mudar as atitudes que integram as rotinas urbanas. No mundo atual, precisamos antes de tudo apagar a luz quando saímos do quarto, fechar a torneira quando não estamos utilizando água e por um ponto-final no desperdício dos alimentos. E para aqueles que poderiam questionar que o “mundo selvagem” estaria sendo deixado de lado, não nos deixemos enganar. Cabalmente, as espécies estão ameaçadas porque a civilização moderna está consumindo como nunca os recursos dos ambientes onde insetos, aves, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos vivem e se reproduzem. Portanto, quando apagamos a luz, fechamos a torneira e segregamos o lixo estamos seguramente auxiliando na preservação dos ambientes naturais em que essas espécies vivem.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Maurício Waldman – Sim. De acordo como destaquei em meu livro Lixo: cenários e desafios  aliás, obra finalista do Prêmio Jabuti 2011 no quesito melhor livro de Ciências Naturais , as pessoas não podem se deixar dissuadir por aqueles que não sabem o que não é possível. Todos devem fazer sua parte, e só parar para verificar o andamento das coisas depois de terem completado o seu quinhão. Então é isto: o lixo é um desafio para todos nós, instigante não só pelas dificuldades, mas pelos projetos e expectativas que insere. Boas notícias então: lutemos por elas!
(Por Patricia Fachin)
FONTE: IHU

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

MANIFESTO CONTRA CORRUPÇÃO E CONVITE PARA MARCHA EM LIMOEIRO DO NORTE


MANIFESTO CONTRA A CORRUPÇÃO
No Brasil, todas as grandes conquistas democráticas só foram alcançadas após grandes manifestações e árduas lutas. Agora, é a nossa vez de fazer história juntos, contra o câncer da Corrupção!
O quanto a corrupção nos custa?
O relatório da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) informa que o custo disso chega até R$ 85 bilhões de reais ao ano. Numa escala de zero a 10, sendo que números mais altos representam países menos corruptos. O Brasil tem nota 3,7.
Veja abaixo o quanto poderia ser investido do dinheiro gasto em corrupção no Brasil.
  • Educação – O número de matriculados na rede pública do ensino fundamental saltaria de 34,5 milhões para 51 milhões de alunos. Um aumento de 47,%, que incluiria mais de 16 milhões de jovens e crianças. Construir 28.000 escolas para 360 alunos cada uma.
  • Saúde – Nos hospitais públicos do SUS, a quantidade de leitos para internação, que hoje é de 367.397, poderia crescer 89%, que significariam 327.012 leitos a mais para os pacientes. Custear 34 milhões de diárias de UTIs nos melhores hospitais particulares. Pagar 17 milhões de sessões de quimioterapia para tratamento de câncer.Construir 33.000 unidades de pronto atendimento 24 horas.
  • Habitação – O número de moradias populares cresceria consideravelmente. A perspectiva do PAC é atender 3.960.000 de famílias; sem a corrupção, outras 2.940.371 poderiam entrar nessa meta, ou seja, aumentaria 74,3%.Daria para Construir 1,5 milhão de casas populares, suprimindo assim 30% do déficit habitacional brasileiro.
  • Saneamento – A quantidade de domicílios atendidos, segundo a estimativa atual do PAC, é de 22.500.00. O serviço poderia crescer em 103,8%, somando mais 23.347.547 casas com esgotos. Isso diminuiria os riscos de saúde na população e a mortalidade infantil.
  • Infraestrutura – Os 2.518 km de ferrovias, conforme as metas do PAC, seriam acrescidos de 13.230 km, aumento de 525% para escoamento de produção. Os portos também sentiriam a diferença, os 12 que o País possui poderiam saltar para 184: um incremento de 1537%. Além disso, o montante absorvido pela corrupção poderia ser utilizado para a construção de 277 novos aeroportos, um crescimento de 1383%.
  • Miséria no Brasil: Daria para erradicá-la, tirando dessa condição mais de 16 milhões de pessoas e ainda sobrariam 5 bilhôes!
Ficaremos de braços cruzados esperando que alguém faça algo por nós? NÃO! Não tenhamos medo de buscar a justiça! Está na hora de dar um basta a toda essa bandalheira, exigindo dos responsáveis, uma postura punitiva, perante a corrupção. Não podemos mais aceitar que políticos inescrupulosos enriqueçam às custas do patrimônio público, enquanto milhares de pessoas não têm sequer o que comer.
Dessa forma, no dia 15 de novembro haverá a 1ª Marcha contra a corrupção em Limoeiro do Norte, sendo a primeira cidade do interior do Brasil a realizar o evento. Defendemos, de início:
  • Aplicação imediata de 10% do PIB para a Educação;
_ Aprovação de emendas constitucionais que ponham fim ao voto secreto em Plenário, ao financiamento de campanhas políticas com dinheiro público, fim das imunidades parlamentares e do foro privilegiado;
_ Aplicação da Lei da Ficha Limpa às eleições de 2012, a fim de impedir que políticos que se enquadrem nas hipóteses previstas na lei, participem da disputa eleitoral ou permaneçam no cargo como, por exemplo, os que renunciaram ao mandato para fugir de cassação ou declarados inelegíveis por órgão colegiado, pela prática de atos de improbidade administrativa;
  • Inclusão da corrupção no rol dos crimes hediondos, dadas as conseqüências do delito no meio social. A corrupção estraga o dinheiro que poderia ser usado para tirar milhões de pessoas da morte, por isso, deve ser tratado como um crime coletivo/social e contra a vida.
Portanto, neste feriado de 15 de novembro de 2011, convidamos você a participar deste mega evento suprapartidário, ás 9 horas da manhã, saindo da Rodoviária em direção à Praça da Câmara Municipai de Limoeiro do Norte.
É de grande importância a presença de toda a sociedade, independente de sua orientação político-ideológica, para o engrandecimento dessa importante batalha.
Limoeiro do Norte, 04 de novembro de 2011.

JUNTOS NO COMBATE À CORRUPÇÃO!
Grupo da Nova Política Limoeirense (NPL) / Assembleia Nac. dos Estudantes _ Livre (ANEL) / CSPConlutas SINTSEM _ Limoeiro do Norte / SINTSEMQ _ Quixeré / SIMSEP _ Tabuleiro do Norte

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O trator ruralista e a ausência do governo

      Relatório de Luiz Henrique é aprovado no Senado, estudantes são agredidos e presos, e o trator ruralista segue sem perdoar ninguém.  O senador Jorge Viana (PT-AC), que representa o Planalto como relator na Comissão de Meio Ambiente, entrou mudo e saiu calado.
   A reportagem é do sítio do Greenpeace, 08-11-2011. 
         O povo brasileiro presenciou mais um episódio nessa terça-feira do circo ruralista que toma conta do Congresso. Os senadores protagonizaram um verdadeiro vexame nacional, com a clara anuência do governo. O relatório do Luiz Henrique (PMDB-SC) foi aprovado nas Comissões de Ciência e Tecnologia (CCT) e de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), por 27 votos a 1. “O texto guarda a essência do projeto original, votado na Câmara e elaborado de forma brilhante pelo deputado Aldo Rebelo”, resumiu o relator. E dessa forma, o Código Florestal caminha a passos largos para o maior retrocesso da história.
      “A presidente Dilma prometeu na sua campanha que não aceitaria qualquer dispositivo que aumentasse o desmatamento ou significasse anistia a crimes ambientais. E é exatamente essa a essência à qual o senador Luiz Henrique se refere. Portanto, o texto aprovado ao gosto do governo é contrário aos compromissos e declarações da presidente, que, ou não irá cumprir com o prometido, ou não consegue controlar a ação de seus aliados no Congresso”, disse Marcio Astrini, da Campanha Amazônia do Greenpeace.
      O relatório apresentado para votação nesta manhã tinha alterações com relação ao anterior, lido na última sessão do dia 25 de outubro. O relator incorporou algumas emendas, que alteraram, por exemplo, os artigos 4º e 35. Essas mudanças fizeram com que a senadora Marinor Brito (PSOL-PA) fizesse um pedido de vista antes da votação, para saber o que estava em jogo.
      Mesmo com as mudanças flagrantes, declaradas pelo próprio relator, e estando o pedido de acordo com o regimento da Casa, ele foi negado pelo presidente da CCT, Eduardo Braga (PMDB-AM).
      O que pôde ser visto na votação de hoje, portanto, foi a sequência do trator ruralista que está sendo passado desde a Câmara. A única novidade, de fato, é que ficou claro, de uma vez por todas, que o governo é parceiro na construção do texto aprovado. O senador Jorge Viana (PT-AC), que representa o Planalto como relator na Comissão de Meio Ambiente, entrou mudo e saiu calado, como tem sido seu costume.
      Encerrando o show ruralista, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) ainda deixou claro que não está totalmente contente com o texto apresentado. Ela quer piorar ainda mais a redação, e terá mais uma chance amanhã, quando serão votados em separado os destaques e emendas ao texto. Ela deu a entender que irá procurar retirar do texto as já minguadas necessidades de recuperação das Áreas de Preservação Permanente (APPs). Ela chegou a lembrar aos Senadores da ameaça de que, caso esse dispositivo não seja retirado, os ruralistas na Câmara irão derrubá-lo.
      A senadora também criticou os artistas que gravaram vídeos defendendo a proteção das florestas, e mandou que eles cuidassem de outros assuntos, como a poluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e do rio Tietê.
Trator neles!
      O trator ruralista parece não distinguir ninguém. A mesma truculência utilizada na votação do texto contra as florestas do Brasil foi usada hoje contra os estudantes que defendiam a proteção das mesmas. Alunos da Universidade de Brasília e membros do Comitê Universitário em Defesa das Florestas foram barrados na porta do plenário e agredidos impunemente.
      Um dos manifestantes, o estudante de geologia Rafael, foi sufocado pelos seguranças do Senado e por um homem sem identificação. Depois de agredido, já em pé e com as mãos para cima em sinal pacifista, ele foi atingido, pela polícia do Senado, por uma arma de choque, que o desmaiou. Carregado, o estudante foi levado à Polícia Legislativa. 
      O único parlamentar que se prontificou a prestar ajuda ao estudante na delegacia e a dar as caras para a imprensa do lado de fora do plenário foi a senadora Marinor, a mesma que votou, sozinha, contra o relatório.
       Na saída da delegacia, ela afirmou que esse fato não ficará somente nas palavras, e que será apurado. “Claro que foi um excesso! Algemar alguém que está se manifestando de forma pacífica é contra a lei! E também não é estranho que os capangas do agronegócio transitem entre nós”, disse.  
      "Juntando as duas comissões, foram 27 votos de apoio ao texto sem que o governo fizesse nenhum esforço ou demonstrasse qualquer insatisfação com o que foi votado. Com isso, hoje, um terço dos senadores, que estavam presentes na votação conjunta, optaram pelo desmatamento e pela anistia a crimes ambientais. Na verdade, o que parece é que o Planalto está gostando do que vê”, concluiu Astrini.

FONTE: IHU

terça-feira, 8 de novembro de 2011

FESTA DA SLIDARIEDADE CÁRITAS

Aconteceu no último dia 04 de Novembro, sexta feira, a FESTA DA SOLIDARIEDADE CÁRITAS, na Pousada Zé Bezerra. Foi um momento bacana de confraternização dos Grupos que a Cáritas Acompanha, de Arte e Cultura, de Celebração da Vida...
Foi onde também fizemos o lançamento da nossa Campanha Permanente de Solidariedade, que precisa cada vez mais sem ampliada... Vejam as fotos da nossa festa abaixo!

FESTA DA SOLIDARIEDADE CÁRITAS 04/11/11

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CONFIRAM AS FOTOS DO SEMINÁRIO DA CÁRITAS NA FAFIDAM ÓNTEM, 03/11/11

Aconteceu, óntem, no auditório da FAFIDAM o Seminário da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, com a presença de estudantes, catadores e muita gente querida que somou com a gente neste primeiro evento que marca a nossa Semana da Solidariedade Cáritas. Próxima Semana escreveremos mais pormenores do seminário. Por enquanto, vejam as fotos nos slides ao lado...

E PRA NÃO ESQUECER: Não percam hoje, sexta feira dia 04/11, a FESTA DA SOLIDARIEDADE.
Esperamos você!!!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

NÃO PERCAM! HOJE ÀS 19:00 NO AUDITÓRIO DA FAFIDAM/UECE O SEMINÁRIO CÁRITAS DEBATERÁ A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS, A COLETA SELETIVA, A INCLUSÃO DOS CATADORES(AS), E OUTRAS QUESTÕES QUE DIZEM RESPEITO AO CONHECIMENTO DE TODA SOCIEDADE JAGUARIBANA.
SUA PRESENÇA É MUITO IMPORTANTE!
COMPAREÇA, DIVULGE, COMPARTILHE...


SE VC CURTIU, COMPARTILHE ESSA REDE DE SOLIDARIEDADE...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Loading